O dia em que conheci o Mega Drive e o Game Gear

Em 1991 eu tinha 10 anos e fazia a quarta série do primeiro grau (hoje quinto ano do ensino fundamental). Eu só tinha um Atari em casa mas já conhecia o NES graças às games onde era preciso pagar pra jogar por hora. Bom, na verdade eu não cheguei a conhecer um Nintendinho original, mas sim seus clones que eram onipresentes nessas lojas (Bit System, Phantom System, Dynavision 3, Hi-Top Game).

Um belo dia eu tava na casa da minha avó e meu primo tava com uma revista de videogame que o irmão dele (filho do meu tio de um casamento anterior) tinha trazido: era a quinta edição da revista Videogame. A capa trazia a imagem de um personagem azul espinhudo que até então eu não conhecia, mas que era noticiado na revista como Sonic, o protagonista de um jogo que tinha ganho um prêmio de melhor jogo do ano nos Estados Unidos. O jogo era bastante rápido, tinha gráficos excelentes e uma movimentação revolucionária, segundo a revista. Ela ainda mostrava fotos das fases e dizia como passar do primeiro chefe.

Obviamente eu, menino tarinha que tava apenas começando a conhecer outros consoles além do Atari, fiquei maravilhado ao folhear aquelas páginas e doido pra jogar Sonic e conhecer o Mega Drive, plataforma onde o jogo rodava. Mas além disso, lembro que outra matéria dessa mesma revista me chamou muito a atenção. Era uma notícia sobre um novo portátil que a TecToy estaria trazendo pro Brasil, chamado de Game Gear, que já havia sido lançado nos Estados Unidos e no Japão.

Um novo mundo

Um pouco mais à frente naquele ano combinei de passar a tarde na casa de um amigo da escola para estudar. Mas eu não fazia ideia do mundo que se abriria pra mim quando eu chegasse lá. A família dele tinha um poder aquisitivo razoável, então ele simplesmente tinha todos os consoles e jogos da época que queria. Mas ele não tinha me falado nada disso, só descobri quando cheguei na casa dele. E aí, claro, qualquer intenção de estudar alguma coisa escorreu pela sarjeta.

Ele começou me mostrando o computador dele. Não lembro qual modelo era (eu não entendia nada de computador na época), mas lembro bem que tinha um monitor monocromático e um gabinete com duas entradas de disquetes flexíveis. Uma entrada ele usou pra rodar o DOS e outra pra rodar um jogo que na época eu não conhecia, mas que hoje eu sei que era o Karateka. Ele me deixou jogar várias vezes, não consegui chegar ao final mas lembro que fiquei impressionado com a movimentação realista dos personagens na tela.

Logo depois ele foi lá dentro e voltou com um aparelho na mão. Quando vi já reconheci logo: um Game Gear! Ele ligou e me deu pra jogar, e quando vi aquela tela colorida fiquei chocado em sentir na palma da mão aquele poder que até então só tinha experimentado em consoles de mesa.

Ele colocou alguns jogos pra eu jogar, mas infelizmente só me lembro de um: um jogo estrelando Pato Donald com gráficos belissimamente coloridos e uma trilha sonora muito marcante. Algum tempo depois eu entendi que aquele jogo era The Lucky Dime Caper. Eu chegaria a jogar aquele mesmo jogo no meu Master System no futuro, mas vou deixar pra contar essa história em outro post.

Finalmente… O Mega Drive!

Eu já tinha me divertido muito naquele dia, mas o melhor ainda estava por vir. Meu amigo me chamou pra ir no quarto dele, e quando eu entrei já me chamou a atenção uma caixa preta com uma textura quadriculada e a gravura de um lobo na frente. A lembrança daquela revista de videogame me veio logo à cabeça, e eu percebi que estava prestes a conhecer o Mega Drive!

Quando vi o console instalado na TV fiquei vários momentos encarando o bichinho, prestando atenção nos detalhes: a inscrição “16-bit” próxima ao encaixe do cartucho, a entrada para fones de ouvido, o controle de volume… E a sensação de segurar o controle foi indescritível. Eu nunca tinha visto um controle com tantos botões (eram 3 hehe, muito pouco pros dias de hoje mas bastante impressionante para a época). Ficava imaginando as possibilidades que aquele terceiro botão traria para os jogos (o controle do NES tinha 2 botões).

Então começamos a jogar. Não lembro de todos, mas lembro com detalhes de alguns jogos que jogamos naquele dia:

• Altered Beast: era o jogo que vinha com o console na época. Eu já tinha visto esse jogo no arcade antes, e eu tava maravilhado ao ver um jogo de arcade daquele nível na tela de uma TV doméstica. Era bem difícil, mas eu fiquei tão viciado que quando cheguei em casa naquele dia fiquei brincando na rua imitando os movimentos dos personagens. A cena do personagem protagonista se transformando em lobo era épica!

• Rolling Thunder 2: mais um port de jogo de arcade. Eu não conhecia, mas também não gostei muito do jogo. Lembro que dava pra jogar com dois personagens: um homem e uma mulher. Uma coisa que me chamou a atenção é que os projéteis da metralhadora não eram visíveis, o que dava um aspecto mais realista. Foi o primeiro jogo de tiro que lembro de ter visto esse detalhe.

• Fantasia: era um jogo de Mickey Mouse derivado do filme de mesmo nome. Interessante é que eu nem sabia da existência do filme, só fui assistir esse filme muitos anos depois. Lembro que achei o jogo bem difícil, não consegui nem passar da primera fase nesse dia.

• Moonwalker: outro jogo derivado de filme. Nesse jogo você controla Michael Jackson e em cada fase é preciso procurar as crianças raptadas para chegar ao chefe. Gostei tanto do jogo que foi o que mais joguei naquela tarde! Esse jogo também merece um post só pra ele, então vou deixar pra falar mais sobre ele depois.

• ToeJam & Earl: depois de Moonwalker, esse foi o jogo que passamos mais tempo jogando naquele dia. Dava pra jogar cooperativamente, cada pessoa controlando um personagem. Ficamos um tempão explorando os mundos e coletando os presentes espalhados. Um jogo bastante divertido.

Naquele dia nem quis ir pra casa, queria ficar lá morando na casa do meu amigo hehe. Saí de lá hipnotizado. Curiosamente naquele dia não joguei Sonic porque ele não tinha o jogo, só fui jogar algum tempo depois quando o Mega Drive chegou na game que eu frequentava. E foi o jogo mais veloz que tinha conhecido até então! Mas também vou deixar pra falar mais sobre ele em um post futuro (já são três promessas de novos posts aqui hehe). Depois voltei mais vezes na casa desse meu amigo para jogar outros jogos que ele tinha comprado, mas depois dessa época de escola perdi o contato com ele. Seria legal reencontrá-lo e relembrar essas histórias. É bem capaz também desse dia ter sido muito mais marcante pra mim do que foi pra ele.

E essa é a história de como conheci o Mega Drive. E você, como conheceu? Manda um comentário contando!