Horizons

Vou aproveitar o gancho do post de Bonifacio sobre Prince of Persia pra falar um pouco sobre esse jogo. Como já mencionei antes, é um dos jogos mais marcantes que joguei, a ponto de ter jogado várias versões em diferentes plataformas ao longo da vida. Aqui vou falar um pouco sobre o jogo em si e as diferenças entre cada uma dessas versões.

O jogo

Jordan Mechner já tinha criado seu primeiro jogo de sucesso, Karateka, quando começou a trabalhar em um novo jogo. Pegando inspiração em filmes como Os Caçadores da Arca Perdida e As Aventuras de Robin Hood, ele resolveu contar a história de um jovem persa que foi preso em uma masmorra por Jaffar, o vizir que assumiu o poder na ausência temporária do sultão. Jaffar quer obrigar a filha do sultão a se casar com ele, sob pena de matá-la caso se negue, para que ele possa assumir o trono permanentemente. Porém a princesa na verdade ama o jovem protagonista, que tem um tempo limitado para escapar das masmorras e enfrentar Jaffar antes que ele a mate.

Tela título Prince of Persia PC
Tela título da versão para PC de Prince of Persia.

Jordan foi o único programador da primeira versão do jogo, lançada para o Apple 2. Ele usou a técnica de rotoscopia para animar os personagens do jogo. Para construir as animações do protagonista, por exemplo, ele vestiu seu irmão em roupas brancas e usou o rotoscópio para capturar seus movimentos de pulo e corrida. Pra quem for mais curioso e quiser dar uma olhada no código fonte da versão original de Apple 2, ele está disponível aqui.

Captura de movimentos do irmão de Jordan Mechner
Uma imagem do vídeo que Jordan gravou de seu irmão para posterior captura de movimentos.
Prince of Persia versão Apple 2
A versão original de Prince of Persia, para Apple 2, lançada em 1989.

As versões

Apesar das boas críticas, inicialmente o jogo não vendeu tão bem. As vendas começaram a melhorar apenas a partir de 1990, quando aconteceram os lançamentos na Europa e no Japão. A partir daí houve uma explosão de versões, inclusive para os consoles das gerações da época. Minha paixão por esse jogo me fez conhecer e jogar algumas poucas versões, sobre as quais vou começar a falar agora.

PC

Quando eu era criança, na rua em que eu morava tinha um amigo meu que ganhou um computador 486 do pai dele. Quando ele me chamou pra ver eu fiquei maravilhado! Foi a primeira vez que eu mexi em um computador na vida, e a interface do Windows 3.1 rodando nele me hipnotizou.

Windows 3.1
Logo do Windows 3.1, exibido ao ligar o computador.

Ele me mostrou muita coisa naquele dia, e isso pode render um bom post no blog depois. Mas em algum momento ele abriu uma tela preta e digitou 3 comandos:

Eu não entendi bulhufas do que ele fez na época, mas como num passe de mágica a tela ganhou vida em forma de um jogo com um rapaz vestido de branco correndo e pulando pela tela, evitando espinhos, tomando poções e enfrentando guardas com espadas. Era a primeira vez que eu tinha visto Prince of Persia na vida, e foi amor à primeira vista.

Prince of Persia versão PC
A primeira luta do jogo na versão PC, no final da primeira fase.

A movimentação do príncipe me atraiu logo de cara pelo realismo, e eu achei fantástico o fator exploração. Explodiu minha mente quando eu encontrei o guarda da primeira fase pela primera vez, morri e percebi que tinha que explorar o resto da fase em busca de uma espada! Depois desse primeiro contato, eu só tive a oportunidade de zerar a versão PC muitos anos depois, quando minha mãe comprou o primeiro computador lá pra casa, um Pentium 3 700 Mhz.

Prince of Persia versão PC tem 12 fases (na verdade existe uma 13ª que representa o final), dispostas em apenas duas variações visuais: um cenário de masmorra, com paredes cinzas de pedra, e um ambiente de palácio, com janelas e tapetes. É preciso terminar essas fases em 60 minutos, senão a princesa morre nas mãos de Jaffar e fica impossível ver o final verdadeiro do jogo.

Ambiente de palácio
Essa é a segunda variação de cenário das fases da versão PC de Prince of Persia.

Super Nintendo

Depois dessa oportunidade eu fiquei com esse jogo na cabeça, esperando jogá-lo de novo um dia. Nesse meio tempo eu comecei a frequentar lojas de videogames onde era possível pagar por hora pra jogar. Nessa época eu gostava muito de desenhar e praticava bastante, então o dono de uma das games que eu frequentava me fez uma proposta: me pediu pra desenhar capas estilizadas dos jogos em conformidade com o padrão visual da loja, e em troca ele me deixaria jogar a quantidade de horas que eu quisesse por alguns meses.

Eu aceitei na hora, afinal de contas não adiantaria eu pegar dinheiro porque eu acabaria gastando tudo na game mesmo! E o trabalho me deu uma boa oportunidade pra conhecer melhor o acervo de jogos disponível na loja, já que antes disso eu sempre acabava jogando os mesmos jogos. E qual foi minha surpresa quando, um belo dia, cheguei na game pra continuar o trabalho e me deparei com a versão de Prince of Persia pro Super Nintendo!

Cartucho Prince of Persia versão americana SNES
Meus olhos mal podiam acreditar no que eu tinha achado no acervo da loja!

Desnecessário dizer que acabei dedicando algumas horas da minha franquia de horas pra esse jogo, e com muita satisfação percebi que era uma versão muito superior à versão de PC que eu tinha jogado há alguns anos. Eram muito mais fases pra completar, 20 no total, dentro de um intervalo de 120 minutos. Essa versão também apresentou uma trilha sonora (excelente por sinal, vai render mais um post) e muito mais ambientações diferentes, bem mais do que apenas aquelas duas disponíveis na versão PC. O pessoal da Arsys Software fez um excelente trabalho em cima de algo que já era muito bom.

Ambiente 1 versão SNES
Este é o ambiente das masmorras, que constituem as primeiras fases.
Ambiente 2 versão SNES
Este ambiente seria o correspondente ao palácio da versão de PC.
Ambiente 3 versão SNES
Conforme o jogador progride, vai conhecendo outros ambientes do palácio.
Ambiente 4 versão SNES
A diversidade de cenários é um exemplo do capricho que foi aplicado no desenvolvimento dessa versão.

O jogo também apresentou um sistema de passwords para ajudar o jogador a não perder o progresso. Eu sempre levava papel e lápis pra anotar as passwords dos jogos que eu jogava nas lojas, mas nos dias que eu esquecia eu precisava decorá-las. Acabei decorando umas poucas passwords do jogo que usei por muito tempo como senhas de email. Uma dessas passwords acabou rendendo um ótimo post de Bonifacio, já mencionado nesse texto, onde ele decifrou o sistema de passwords da versão de SNES pra descobrir um erro em uma das passwords que eu tinha decorado errado.

Master System

Na época que eu jogava em games meu pai ficava um pouco preocupado porque eu saía muito. Segundo ele eu só ia pra casa pra comer e dormir hehe. Então ele resolveu comprar um videogame pra mim, pra que eu passasse mais tempo em casa. Foi então que ele comprou um Master System usado por 100 reais na época (se não me engano, isso foi em 1995 - eu tinha 14 anos). Eu fiquei muito feliz, e ele também porque o que ele esperava aconteceu. Todo mundo saiu ganhando :)

Foi muito legal ter um Master System em casa, eu sabia que existiam videogames mais poderosos mas eu não me importava com isso. Foi muito bom também explorar a biblioteca do sistema, cujos títulos eram apresentados a mim por meio de locadoras de cartuchos. Toda sexta-feira eu pedia pra minha mãe me levar em uma locadora pra alugar um jogo pro fim de semana.

Em uma dessas sextas-feiras eu estava tranquilamente olhando o acervo e escolhendo um jogo pra alugar, quando de repente vi algo que me fez perder o fôlego: uma versão de Prince of Persia para Master System! Eu nem fazia ideia de que esse jogo tinha sido lançado pro Master!

Capa e cartucho da versão Master System
Prince of Persia para Master System tinha 2 mega e já apresentava a etiqueta azul no cartucho.

Quando comecei a jogar percebi que o jogo era bem fiel à versão de PC. Você tem 60 minutos para terminar a mesma quantidade de níveis, e o jogo tem basicamente duas variações de cenários apenas: as masmorras e o palácio. Mas outra coisa que eu percebi é que o pulo do protagonista é mais longo do que nas versões de PC e SNES. Isso deixava o personagem mais apelão.

Achando a espada - Master System
Momento em que a espada é encontrada na primeira fase da versão para Master System.

Em suma, é uma versão de bastante qualidade que eu gostei muito de ter jogado. Foi muito bom experimentar a sensação de jogar um jogo que eu gostava tanto no conforto de casa - pra felicidade do meu pai também, claro.

Ambiente palácio Master System
Ambiente do palácio da versão para Master System. O pessoal caprichou nos gráficos!

Mega Drive

A versão para Mega Drive eu conheci algum tempo depois de ter conhecido as versões de SNES e de Master System, na mesma game que fiz o trabalho de desenho das capas. Vi o cartucho por lá que o dono tinha adquirido, fiquei curioso e joguei. Percebi que ela é basicamente uma versão PC com gráficos melhorados: você tem 60 minutos pra terminar 13 níveis (o 13º nível representa apenas o final do jogo). O pessoal que desenvolveu essa versão também colocou textos e ilustrações na introdução e no final para enriquecer a história.

Ambiente masmorras Mega Drive
Ambiente de masmorra da versão para Mega Drive.

Por fim, assim como na versão PC, existem apenas dois ambientes: masmorras e palácio. Outra diferença notável é que o jogo agora mostra o tempo restante o tempo todo na parte inferior da tela, ao contrário das versões vistas até agora.

Ambiente palácio Mega Drive
Ambiente do palácio da versão para Mega Drive.

PS3

Pra fechar este longo post, vou falar sobre a última versão que joguei de Prince of Persia. Quando comprei meu PS3 em 2013, percebi que havia uma versão Classic de Prince of Persia à venda na loja da PSN, que pelas imagens parecia ser uma releitura do jogo com gráficos mais atuais. Claro que fiquei muito curioso pra conhecer e comprei.

Achando a espada - PS3
Momento em que a espada é encontrada na versão para PS3.

Ao jogar notei que não apenas os gráficos, mas a jogabilidade também foi atualizada para algo mais moderno. O jogo, apesar de ter uma jogabilidade lateral, foi todo refeito em 3D e incorporou mecânicas que fizeram sucesso desde o lançamento de Prince of Persia: The Sands of Time. O personagem controlado pelo jogador está bem mais ágil e consegue subir plataformas bem mais rapidamente, graças a essas novas mecânicas.

Ambiente palácio PS3
Os gráficos nessa versão ficaram muito bem trabalhados. Esse é o ambiente do palácio.

Apesar das mudanças, o jogo continua com o mesmo tamanho da versão PC: 60 minutos para terminar 13 fases. Porém, ao contrário da versão de PC, ao jogar a 13ª fase o jogador é surpreendido por um segundo confronto contra Jaffar - o que eu achei muito legal.

Fim!

Ufa, o post ficou bem mais longo do que planejei. Esse jogo tem muito mais versões disponíveis, mas essas foram as que eu conheci. Acho que deu pra passar a noção do quanto esse jogo me marcou né? Quem jogaria tantas versões assim de um mesmo jogo afinal?

2 comentários.

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